Steve Blank, uma das maiores referências em empreendedorismo no mundo, escreveu uma vez que "empreendedorismo não é uma escolha de carreira. É uma paixão e obsessão". Posso dizer, por experiência própria, que Blank não poderia estar mais certo.
Sou um verdadeiro apaixonado por criar negócios e, principalmente, por ajudá-los a crescer. Nos últimos 10 anos, tive o prazer de participar de algumas iniciativas e desenvolver projetos próprios que me desenvolveram muito como empreendedor. Muitos deles falharam; outros foram bem sucedidos e continuam firmes, crescendo. E mesmo os projetos que não foram para frente nunca me fizeram desistir dessa trajetória. Cada erro cometido é encarado como grande aprendizado e isso só torna o processo de empreender ainda mais fascinante.
Neste artigo, quero compartilhar os principais aprendizados que tive até este momento da minha trajetória com quem é fascinado pelo mundo do empreendedorismo, assim como eu. E não apenas os que aprendi com meus erros, mas também os aprendizados em relação àquilo que deu certo em vários projetos como o Netshow.me, o GVentures e o GVangels, todos projetos que vem crescendo de maneira bastante significativa. A base deste texto é uma palestra que fiz sobre o tema em um evento do Programa Avançar, um dos principais eventos do Santander Negócios & Empresas, realizado no dia 28 de março de 2018 no 033Rooftop (Teatro Santander), em São Paulo. Ao final do artigo, você pode conferir o vídeo completo da palestra, que foi gravada pelo sistema da @Netshow.me - minha empresa de transmissões ao vivo profissionais.
Fiquem à vontade para compartilhar nos comentários lições que vocês consideram importantes também. Afinal, a troca de experiências e conhecimentos só tem a fortalecer o nosso ecossistema para que cada vez mais surjam negócios de sucesso!
Day 1
Todo empreendedor tem um momento na carreira que é como um ponto de virada, que o fez perceber que seu caminho é no empreendedorismo. É o chamado Day 1. E antes de começar a falar das dicas para criar negócios de sucesso, queria compartilhar com vocês qual foi o meu Day 1.
Na verdade, considero que tenho vários Days 1 e acredito que bons empreendedores tenham também. Mas o primeiro que eu lembro, quando me entendi como alguém que gostaria de criar um negócio próprio, foi aos 10 anos. Naquela época, comecei a jogar um game de PlayStation chamado Harvest Moon, em que basicamente você herdava uma fazenda e tinha que comprar todos os grãos para sua plantação, cuidar do celeiro, comprar maquinário, criar uma estufa e outras tarefas.
Mesmo sendo para crianças, o jogo envolvia conceitos como compra e venda de mercadorias, gestão de matérias-primas e precificação. Lembro de ter zerado esse jogo umas 7 ou 8 vezes e, a cada vez que jogava, buscava um jeito mais eficiente e processual de fazer as coisas funcionarem melhor e terem melhores resultados.
Aos 14 anos, falei para os meus pais que eu queria criar uma própria empresa. E uma questão que eu tinha muito clara para mim era a importância do conteúdo, conhecimento, capacitação, para conseguir criar negócios grandes, que realmente impactassem a vida das pessoas. Isso me leva ao primeiro aprendizado sobre empreendedorismo:
Aprendizado 1: Educação: o seu maior investimento
Quando era estudante de Administração na Fundação Getúlio Vargas (FGV), não queria apenas aprender para passar nas matérias e ter meu nome estampado em um diploma. Procurava estudar e absorver os conteúdos de fato porque sabia que poderia utilizá-los em projetos no futuro. É a partir do conhecimento que conseguimos criar negócios com grande potencial de impacto. Portanto, não-coincidentemente a Escola me convidou em 2018 para fazer parte da sua campanha institucional. Imagem abaixo:
Aprendizado 2: Se possível, comece empreendendo com o dinheiro dos outros
Tive vários projetos durante a graduação na GV. A maioria falhou. Por isso, no final do curso, queria validar se conseguir investimento externo e trabalhar com pessoas mais experientes traria um crescimento mais acelerado. Encontrei essa resposta no mercado de private equity, quando trabalhei na Bravia Capital. Lá eu tinha autonomia para mergulhar nas operações de empresas investidas e reinventar seus processos com um time altamente profissional e com capital de investidores. Essa experiência fez com que eu me sentisse mais seguro e confiante para criar meu próprio negócio na sequência.
Aprendizado 3: O "porquê" você faz é o que mais importa
Refletir e descobrir qual é o nosso verdadeiro propósito para empreender dá mais motivação e realização para as coisas que nos propomos a fazer. Não tem problema algum se a sua resposta inicial seja dinheiro, eu mesmo já tive projetos que nasceram com esse "porquê". Entretanto, percebi que empresas realmente grandes naturalmente acabam tendo que mudar seu porquê, já que é muito difícil mobilizar um time que compartilhe do mesmo sonho e seja comprometido com o negócio se o propósito é basicamente grana. Para se criar algo realmente grande, o seu “porquê” deve ser tão grande quanto o que se busca criar - e grana não é o suficiente.
Aprendizado 4: Nem sempre o mais inteligente vence. Muitas vezes, é o mais rápido
Não perca tempo focando no desenvolvimento do produto sem ter certeza se há mercado e público para ele. Se você não validar seu modelo de negócio e desenvolver seu clientes antes, você vai gastar muito mais tempo, suor, energia e dinheiro para reformular todo o produto, além de estressar seu time. No dia a dia, você precisa ser ágil, testar e entender os reais valores que fariam o cliente pagar para que você resolva os problemas dele, para depois desenvolver o produto de acordo com essas necessidades. Desenvolva primeiro o cliente e depois o produto.
Aprendizado 5: Faça coisas não escaláveis primeiro
Paul Graham, fundador da aceleradora Y Combinator, disse essa frase em um de seus livros. E é realmente impossível criar negócios sem colocar a mão na massa. Se você não sair de casa e conversar com o cliente para entender seus processos e objeções, dificilmente você vai escalar. No próprio Netshow.me, no início da nossa trajetória, inúmeras vezes pegamos uma webcam e colocamos na frente de um músico no sofá da casa dele para ensiná-lo a fazer uma transmissão ao vivo. Faça coisas não escaláveis para um dia seu negócio escalar. Vale assistir a esse trecho do vídeo (a partir de 12m17s) da palestra, pois falo de casos reais de grandes empresas como Netflix e Airbnb.
Aprendizado 6: A única certeza que você tem é que você vai ter que mudar
Se a gente está sempre orientado ao cliente e à validação do modelo de negócio, naturalmente as mudanças vão vir. E elas sempre vão exigir que você tome as providências necessárias. O Netshow.me é um grande exemplo disso. Ficamos focados na indústria musical por 2 anos e meio. Conquistamos uma reputação absurda, com prêmios nacionais e internacionais. Até que, em 2015, fomos ao festival South by Southwest, nos Estados Unidos, para apresentar nossa aplicação para transmissão ao vivo via celular. E tivemos um grande baque: o Meerkat, primeiro aplicativo para transmissão ao vivo mobile, nos desbancou durante o evento, recebendo um investimento milionário.
Nós éramos uma empresa brasileira com zero fundraising e nos vimos em uma situação em que ou mudamos ou morremos. Percebemos que o mercado B2C não era mais o nosso, já que existiam ferramentas gratuitas que faziam nosso papel facilmente a partir de redes sociais. Estudando o mercado, vimos que nossa tecnologia poderia ser direcionada para outro público, o de empresas. Tivemos que mudar praticamente todo o nosso negócio, o que tomou muito tempo e trabalho. Mas foi o que fez a empresa sobreviver e crescer em outro mercado: o B2B. Passamos, assim, a oferecer nossa tecnologia para transmissões ao vivo profissionais a empresas, eventos, congressos e treinamentos.
Aprendizado 7: Seja apaixonado pelo problema
Essas decisões de mudança são sempre acompanhadas pelo que mais precisa ser pensado: o problema, a dor do cliente. Não cometam o mesmo erro que nós cometemos de demorar para lançar o produto e ver que o mercado já não funcionava mais como esperávamos. Não olhem só para a solução, porque um problema tem diversas soluções. Se não formos as pessoas que criam uma disrupção em nosso próprio modelo de negócio, estamos abrindo as portas para nosso concorrente entrar e assumir a nossa “casa”. Que nós sejamos os destruidores diários dos nossos próprios negócios. Isso sim é inovação!
Aprendizado 8: Foco - a arte de dizer "não"
Foco é algo que acompanha toda a linha de desenvolvimento de um negócio. Diante de tantas possibilidades, onde é melhor focar? Como vice-presidente da Associação Brasileira de Startups, o erro mais comum que vejo entre os empreendedores é quando eles querem metralhar para todos os lados, conquistar tudo ao mesmo tempo. Escolha um mercado, seja referência nele e, depois, avance para outros.
Aprendizado 9: Saiba lidar com frustrações
Todos os dias, vamos nos deparar com situações frustrantes como fundos de investimento que já chegaram na fase final da assinatura de um contrato e dão para trás; contas de grandes clientes estratégicos que desandam de um dia para outro; funcionários com enorme potencial que acabamos de contratar e que decidem deixar a empresa para trabalhar em outro lugar. Na trincheira, a gente precisa levantar a cabeça e seguir em frente. Tem que ser casca grossa para lidar com todos esses baques, porque em alta performance sempre terá mais notícias ruins do que boas. Mas se conseguirmos fazer 20% das coisas darem certo, durante um ano vamos ter construído um negócio realmente grande e nos orgulharemos de termos seguido em frente.
Aprendizado 10: Encontre as pessoas certas para estar ao seu lado
Na GVentures, tivemos 18 empresas aceleradas em um ano e meio. O GVangels hoje conta com 62 investidores ativos, que já investiram mais de R$ 2 milhões em quatro startups em 10 meses de operação. E o Netshow.me cresceu 4,5 vezes em 2017 e espera um crescimento de mais 4 vezes neste ano. Tudo isso foi feito graças a um TIME. Fomos Nós que fizemos: eu e todos os colaboradores desses projetos. Pra mim, o que define tudo que conquistamos é a nossa capacidade de atrair as pessoas certas, comprometidas, que querem construir, que sabem lidar com frustrações, que tornam o nosso sonho um sonho delas também. São pessoas que certamente estão empreendendo com o dinheiro dos outros. E espero que todas essas iniciativas sirvam de escola para que elas criem seus próprios negócios no futuro, também altamente sucedidos, que transformem suas indústrias e impactem positivamente na vida de muita gente.
Vale a pena conferir a palestra completa no link:
Conteúdo da minha palestra em um dos principais eventos do Banco Santander Brasil.
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